Histórias Aquarianas para Crianças: Ser um Porco-espinho

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Histórias Aquarianas para Crianças: Ser um Porco-espinho

Histórias Aquarianas para Crianças: Ser um Porco-espinho

Porco Montanhês levantou seus espinhos e alisou-os novamente.

— Gostaria de ser um coelho, resmungou.

— UM COELHO? – Repetiu Esterlino, outro porco-espinho. Para que?

— Assim eu não teria que carregar estes espinhos nas minhas costas o tempo todo. São pesados e eles coçam.

— São a sua proteção – Protestou Esterlino. Eu não trocaria meus espinhos pelas cascas de todas as arvorezinhas do mundo.

— Não me diga que você gosta de carregar essas coisas para onde quer que você vá, disse Porco Montanhês.

— Não, eu não gosto muito, admitiu Esterlino, mas não me importo em ficar um pouco desconfortável. Os espinhos valem a pena. O que você faria se viesse um urso, perseguisse você e você não tivesse os espinhos?

— Se eu fosse um coelho, eu fugiria saltando, disse Porco Montanhês.

— Só isso, hein, disse Esterlino.

— Só isso, concordou Porco Montanhês.

— Bem, você deveria ficar agradecido por seus espinhos e ficar contente por não poder se livrar deles, admoestou Esterlino. Para os coelhos é muito mais difícil do que você pensa. Eles estão sempre tremendo e fugindo toda vez que um galhinho estala. Acho que eles nem podem comer sossegados.

— Azar deles se são como gatos assustados, disse Porco Montanhês com desprezo. Eu não fugiria quando um galhinho estalasse. E, com certeza, não ficaria tremendo. Eu continuaria a comer tranquilo. Além disso, nenhum urso ainda me perseguiu.

— Ele perseguiria, se você fosse um coelho, disse Esterlino. Mas eu não vou discutir com você. Eu vou procurar alguma coisa para comer.

Esterlino saiu gingando pesadamente. Porco Montanhês ficou observando-o e suspirou.

— Ele parece tão pesado como eu. Oh, como eu gostaria de me ver livre destes espinhos e ser um coelho!

— É isso mesmo que você quer? – Perguntou uma voz atrás dele.

Porco Montanhês se virou tão depressa quanto pode e ficou de olhos arregalados. Lá estava o porco-espinho mais esquisito que ele já tinha visto. Pelo menos ele pensou que era um porco-espinho, embora ele fosse roxo e com espinhos dourados.

— Quem é você? – Perguntou Porco Montanhês.

— Eu sou o Porco-Espinho Perfeito, respondeu ele.

Eu posso transformar você em um coelho, se você realmente quer ser transformado em coelho, mas você precisa ter certeza que quer ser um coelho, que depois que você virar coelho, você vai ter que ficar sendo coelho.

— Você pode mesmo me virar em um coelho? – Perguntou Porco Montanhês.

— Eu acho que foi isso mesmo que eu disse, respondeu impaciente o Porco-Espinho Perfeito.

— Então, por favor, me transforme em coelho, pediu Porco Montanhês.

— Você entendeu bem que depois que você virar coelho, você vai ter que ser coelho para sempre, mesmo que você queira muito voltar a ser porco-espinho de novo? – Perguntou o Porco-Espinho Perfeito.

— Eu entendo, respondeu Porco Montanhês. Eu não vou querer nunca mais ser porco-espinho.

— Eu não teria tanta certeza disso, disse o Porco-Espinho Perfeito. Mas, se é isso que você quer…

O Porco-Espinho Perfeito soltou um dos seus espinhos dourados, que caiu no chão na frente de Porco Montanhês e se balançou para os lados tão depressa, que ele só viu uma luz dourada.

— Sylvilagus Lepus Cuniculus! – Entoou o Porco-Espinho Perfeito.

No mesmo instante, Porco Montanhês se sentiu tão leve como uma pena. Tentou dar um passo para frente, mas em vez disso, ele deu um pulo. Tentou dar outro passo, e só deu outro pulo. Seus espinhos tinham desaparecido. Havia uma sombra branca atrás dele e torcendo o corpo como um U, viu que tinha um rabo de algodão.

— Sou um coelho! Sou um coelho! – Exclamou, pulando em círculos, entusiasmado. Obrigado, Porco-Espinho Perfeito, obrigado!

Contudo, o Porco-espinho Perfeito tinha desaparecido.

Porco Montanhês saiu pelo prado fazendo com que cada pulo fosse mais longo do que o anterior. Era maravilhoso sentir-se tão leve e levantar-se tão alto no ar, sem espinhos pesando para fazê-lo descer. Era quase como um instante, Porco Montanhês alcançou Esterlino, que ainda estava indo no seu jeito lento, pesado, procurando comida. Porco Montanhês pulou por cima de Esterlino e caiu bem na frente dele.

— Vuuuh! – Exclamou Porco Montanhês. Veja como eu pulo!

Você não está com pena de não ser um coelho?

— O que — Porco Montanhês? É você? – Perguntou espantado Esterlino quando conseguiu falar.

— Eu mesmo! – Disse Porco Montanhês. O Porco-Espinho Perfeito me transformou em coelho. Eu não peso quase nada! Eu posso pular, pular e ir a qualquer lugar dez vezes mais depressa do que você.

Porco Montanhês pulou e pulou em volta de Esterlino, mostrando como ele podia pular e como podia ir bem depressa.

— Pare! – Pediu Esterlino – Você está me deixando tonto. E para responder à sua pergunta, não, eu não tenho pena de não ser coelho. Espero que você não venha a sentir pena de ser um coelho. Boa sorte, meu velho. Você vai precisar dela.

Com isso, Esterlino continuou seu caminho, sem prestar mais atenção a Porco Montanhês.

— Ora, ele está com ciúmes, disse Porco Montanhês para si mesmo. Se ele vai ficar assim, é melhor eu esquecer dele. De qualquer forma, é hora de eu fazer amizade com coelhos.

Porco Montanhês foi pulando até que encontrou muitos coelhos comendo num canteiro de trevos. Deu um belíssimo pulo e caiu bem no meio deles. Os coelhos fugiram, pulando para todos os lados.

— Para onde eles foram? – Porco Montanhês pensou alto, quando um coelho grande veio devagar para perto dele.

— O que você quer dizer com “para onde eles foram?” – Perguntou zangado o coelho grande. Você os assustou tanto que eles se esconderam. Que espécie de coelho é você, afinal? Você não tem nada melhor que fazer do que assustar seus irmãos? Nós já temos muitas coisas de que ter medo!

— Desculpe, disse Porco Montanhês, que lá no fundo achou que era uma grande bobagem os coelhos terem medo de outro coelho. Eu sou coelho há pouco tempo, e não sabia que vocês se assustavam por tão pouco. Eu pulei por cima de Esterlino e ele não se assustou.

— Esterlino é um porco-espinho. Os porcos-espinho têm espinhos para protegê-los. Eles sabem disso e os outros animais também. Na verdade, há muito pouco do que os porcos-espinho possam ter medo. Nossa única proteção contra o perigo é fugir dele o mais rápido possível, e há muitas coisas que assustam os coelhos.

O coelho grande falou com se estivesse explicando as coisas para um bebezinho.

— Bem, disse Porco Montanhês, eu era porco-espinho até uma hora atrás e nunca me assustei. E também não vou começar a ficar assustado agora. Acho que vocês coelhos tinham que aprender a ser mais valentes.

— Você era um porco-espinho e agora você é um coelho!

O coelho grande repetiu essa informação suavemente.

— Você está procurando encrenca! Boa sorte, meu amigo. Você vai precisar dela.

Com isso, o coelho grande foi embora, pulando, deixando um Porco Montanhês aborrecido atrás dele.

— Que é que há com todo mundo? – Perguntou a si mesmo. É a coisa mais fácil do mundo ser coelho. É só pular e…

O som de latidos o interrompeu. Um cachorro enorme vinha correndo pelo prado bem na sua direção. Porco Montanhês já tinha lidado com cachorros antes e não se preocupou nem um pouco. Quando o cachorro visse seus espinhos, com certeza iria voltar correndo com o rabo entre as pernas.

Porco Montanhês tentou eriçar seus espinhos e nada aconteceu. Tentou de novo — e, então, ele se lembrou. Ele não tinha espinhos. Ele não tinha absolutamente nada que pudesse protegê-lo contra o cachorro.

Pela primeira vez na vida, Porco Montanhês teve medo. Seu coração bateu duas vezes mais depressa que o costume, e ele tremeu desde o focinho até ao rabo. O cachorro estava quase alcançando-o e tinha todos os sinais de querer agarrá-lo com seus dentes afiados.

Não havia outra coisa a fazer, senão fugir. Porco Montanhês começou a pular o mais depressa que conseguiu. O cachorro estava bem nos seus calcanhares. Mesmo correndo muito, o cachorro também corria igual, latindo tão ferozmente que Porco Montanhês sentia seu bafo quente.

Assim foram, sem cessar, o cachorro correndo e latindo, e Porco Montanhês pulando para salvar a pele. Atravessaram o prado, atravessaram o bosque, subiram e desceram a colina e ainda assim o cachorro estava bem atrás de Porco Montanhês.

Ele sabia que já não podia ir muito longe. Estava sem fôlego e suas pernas, que não estavam acostumadas a pular, doíam terrivelmente. Estava quase caindo, quando viu um buraco no chão na sua frente. Dando um último pulo, mergulhou no buraco, deixando o cachorro escavando na entrada e latindo loucamente.

Porco Montanhês ficou deitado no chão de um túnel. Ele não podia se mexer, quase não podia respirar e não queria pensar. Tudo em volta estava escuro e, à distância, ouviam-se latidos, latidos, latidos …

Depois do que lhe pareceu um tempo muito longo, Porco Montanhês percebeu que havia muitos coelhos ao seu redor.

— Quem é ele? – Disse um – Que sujeito, trazer aquele cachorro bem aqui na nossa toca! Agora nós vamos ter que nos mudar.

— Meu nome é Porco Montanhês, disse ele. Porque vocês vão ter que se mudar?

— Porque você trouxe o cachorro até nossa toca, seu palerma, foi a resposta. Agora que ele sabe onde nós moramos, ele não vai nos deixar em paz. Ele é capaz de ficar lá fora a qualquer hora, esperando a gente aparecer. Que tipo de coelho você é que não sabe disso?

— Bem, eu era um porco-espinho até há pouco tempo atrás, explicou Porco Montanhês, que estava ficando cansado de explicar isso. Desculpem por eu ter guiado o cachorro até sua toca, mas eu esqueci que eu já não tinha meus espinhos. O cachorro quase me pegou. Eu pulei, pulei, e quando vi este buraco eu me joguei dentro.

— Talvez fosse melhor se o cachorro tivesse pegado você, disse maldosamente o coelho. Nós, os coelhos de verdade, já temos bastantes problemas. Nós não temos necessidade de porcos-espinho-coelhos que não se lembram que não têm espinhos e levam os inimigos até nossa porta!

— Mas eu estava com medo, choramingou Porco Montanhês. Eu não sabia mais o que fazer.

— Você estava com medo! zombou o coelho. O que é que você esperava? Os coelhos passam metade de suas vidas assustados. Você devia ter pensado nisso antes de se tornar um coelho. Agora saia daqui e volte para onde você pertence. Não permitimos meios-coelhos aqui.

Os coelhos se uniram e empurraram Porco Montanhês pelo túnel e depois para fora da entrada. Parece que o cachorro tinha ido embora, mas agora estava escuro, e Porco Montanhês não sabia o que poderia estar escondido atrás das árvores e moitas. Ele estava aterrorizado, e seu coração batia tão forte, que ele nem podia ouvir seus próprios pensamentos.

— E não volte! gritaram os coelhos no túnel, atrás dele.

Porco Montanhês deu alguns pulos para a frente na escuridão. Um galhinho estalou, e ele quase morreu de medo antes de perceber que ele mesmo tinha feito o galhinho estalar quando pisou nele.

Uma coruja piou por perto e, de novo, ele pulou de susto.

— O que há comigo? pensou. Eu nunca tive medo de corujas antes.

Porco Montanhês foi pelos bosques escuros, pulando, parando e ouvindo. Qualquer barulhinho o assustava, e ouvia barulhos que não existiam. Não sabia aonde estava. Estava com fome. Estava cansado. Estava tão só!

Por fim, achou um tronco oco. Arrastou-se para dentro dele e deitou-se. Pensou que ali estaria tão à salvo como em qualquer outro lugar. Ali passou longas e escuras horas, esperando pelo amanhecer. Estava certo que bem ali, fora do tronco, havia cachorros, ursos, raposas e lobos, todos a espera para agarrá-lo.

Quando finalmente o Sol apareceu, o pobre Porco Montanhês estava em péssima forma. Meteu o nariz para fora do tronco e teve medo da própria sombra. Tremia o tempo todo, ainda mais quando um galho estalava. Estava morrendo de fome, mas muito assustado para procurar a sua refeição da manhã. Estava exausto, mas muito assustado para poder dormir.

— Oh! Como gostaria de ter meus espinhos de novo, murmurou, porque estava muito assustado para poder falar alto. Gostaria de nunca ter desejado ser um coelho! Gostaria de ser outra vez um porco-espinho!

— É, eu acho que sim! – Disse uma voz na frente do tronco.

Lá estava o mais estranho coelho que Porco Montanhês já tinha visto. Era roxo e seus bigodes e a cauda eram dourados.

— Suponho, murmurou Porco Montanhês, que você é o Coelho Perfeito?

— Sou, disse o Coelho Perfeito. Não precisa murmurar. Saia desse tronco e pare de tremer. Você é o coelho mais covarde que eu já vi.

— Eu não quero mais ser coelho, Porco Montanhês estava quase chorando.

— Não foi isso o que eu ouvi ontem, disse zangado o Coelho Perfeito. Você estava louco para ser um de nós.

Pular fora de qualquer perigo com a maior facilidade!

Ser coelho é a coisa mais fácil do mundo! Bah!

— Gostaria de ser um porco-espinho, choramingou Porco Montanhês.

— Você não se lembra que o Porco-Espinho Perfeito disse que você não poderia se transformar de novo? – Perguntou o Coelho Perfeito.

— Eu me lembro, fungou Porco Montanhês, começando a chorar.

— Oh! Pare de lamentar-se! – Disse o Coelho Perfeito.

Você é uma vergonha para a família Coelho. Eu tenho o poder de fazer uma exceção para a regra Não-Transformar-de-Novo, se acontecer de eu não querer você na nossa família. E é claro que eu não quero! Eu vou virar você de novo no que você era antes e espero que tenha bastante juízo para ficar daquele jeito.

O Coelho Perfeito agitou os bigodes até que eles se mexeram tão rapidamente, que tudo que Porco Montanhês viu foi uma luz dourada.

— Erethizon Hystricidae! – Entoou o Coelho Perfeito.

Imediatamente Porco Montanhês se sentiu mais pesado.

Tentou pular, mas em vez disso só deu um passo lento, pesado. Seus espinhos estavam outra vez no lugar. Ele era de novo um porco-espinho!

— Obrigado, Coelho Perfeito, disse Porco Montanhês agradecido, mas o Coelho Perfeito tinha desaparecido.

Agora Porco Montanhês sabia que nunca mais precisaria ter medo de cachorros, homens, corujas, galhos que estalavam ou de sua própria sombra. Seus espinhos eram tão pesados como sempre, mas Porco Montanhês se sentia leve, despreocupado e muito mais aliviado.

— Agora, disse, finalmente posso tomar minha refeição da manhã em paz.

Nesse momento, chegou Esterlino, movendo-se pesadamente.

— Oi, cumprimentou-o Porco Montanhês.

— Olá, você voltou a ser o mesmo, disse Esterlino. Você não gostou de ser coelho?

Porco Montanhês estremeceu.

— Não, não gostei de ser coelho, respondeu com firmeza. E também ninguém gostou de mim como coelho. Foi assustador e horrível: Eu nunca mais vou querer ser outra coisa a não ser um porco-espinho.

(Do Livro Histórias da Era Aquariana para Crianças – Vol. VII – Compiladas por um Estudante – Fraternidade Rosacruz)

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